Curso do Tratamento Neuroevolutivo (NDT) Conceito Bobath Sobre sua importância para a formação do terapeuta Fisio, Fono e TO que pretenda atender um paciente com disfunções neurológicas.

O paciente com disfunção neuromotora ou paralisia cerebral demanda um profissional especializado com formação em pós-graduação clínica. Neste tipo de prática clínica como no Curso Bobath (NDT), existe uma especificidade de manuseio no corpo do paciente o que faz com que os alunos após o nível de graduação busquem se instrumentalizarem para ampliar conhecimento e melhor atenderem as demandas vindas dos seus pacientes. Também a aplicabilidade dos manuseios exige práticas sob orientação de um instrutor, o que formaliza uma estrutura de ensino/aprendizagem e viabiliza a conquista dos bons resultados junto à pessoa tratada o que, normalmente, não é o caso nos cursos de graduação tradicionais. Portanto, é necessário compreender os princípios e em seguida treinar e aplicar os manuseios dentro de uma perspectiva de ganhos funcionais e independência.

De fato o recomendável é a formação complementar, após a conclusão de sua graduação, e deve ser feita por aqueles profissionais que pretendam lidar com portadores de disfunções neurológicas.
O Tratamento Neuroevolutivo é a prática formativa básica que ocorre em um período de oito semanas, com aulas teóricas, laboratórios de movimento entre os alunos e com a utilização de atividades práticas com pacientes com o diagnóstico clássico das patologias. É também uma abordagem clínica em que o terapeuta trata o paciente de uma forma integral e sistêmica. O paciente é visto como um todo e considerado em seus aspectos físicos, emocionais e motivacionais. O terapeuta deve conhecer as limitações e potenciais presentes no paciente e a partir daí projetar o futuro e atender as suas potencialidades terapêuticas.
Nesta perspectiva, o paciente é visto como uma pessoa singular no que tange a sua patologia. Por exemplo, a limitação funcional relatada pela família ou responsável é a prioridade para conduzir a intervenção terapêutica. Então, o primeiro passo para elaborar as estratégias de intervenção será proceder a uma análise dos sistemas orgânicos e estruturas do corpo, identificando as deficiências que prejudicam a realização das atividades funcionais desejadas.
O que garante a eficiência do tratamento na área neurológica é considerar a relação entre a deficiência nos vários sistemas envolvidos com a atividade funcional limitada e os aspectos emocionais e motivacionais.
A partir dessa abordagem inicial, o paciente é visto como um todo, incluindo todos os seus sistemas orgânicos que são no caso da disfunção neuromotora, o sistema neuromotor, músculo esquelético, sensorial, gastrointestinal, cardiopulmonar e regulatório, além dos aspectos positivos na sua vida funcional, na cognição, no comportamento, na comunicação e no emocional. Deverão também ser avaliados os pontos fortes na atitude participativa da família, que é fundamental para a evolução adequada do paciente.
Essa forma de avaliar está baseada em ações desenvolvidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que introduziu a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), que tem como objetivo retratar os aspectos de funcionalidade, incapacidade e saúde do paciente. A partir daí surgiu a necessidade de uma avaliação funcional capaz de captar os resultados ou efeitos da intervenção. Os instrutores Bobath desenvolveram então a avaliação funcional, da forma descrita acima, para pacientes neurológicos com o objetivo de definir a função necessária e, assim, tratar as estruturas do corpo e os sistemas orgânicos com deficiências, para conduzir a evolução dessa função obtendo a eficiência no tratamento.
Helenice Soares de Lacerda
Fisioterapeuta, Especialista, Instrutora do Curso do Tratamento Neuroevolutivo-Conceito Bobath.

Referencias Bibliográficas .
1. Shumway-Cook, A.: Woollacott, M. – Motor Control Theory and Practical Applications. Baltimore, Williams & Wilkins, 1995.
2. Sackett,DL, Strauss,S.E, Ricuardson, W.S, Rosemberg,W. and Haynes,RB. (2000) Evidence Based Medicine, How to practice and teach EBM, Second Edction, Edimburg, Churchill Livingstone.
3. Herbert, R ,Jamtvedt,G ,Mead,J , Hagen,K.B , (2005) Practical Evidence – Based Physiotherapy, Elsevier Ltd.
4. Sue Raine, Linzi Meadows, Mary Lynch-Ellerington – Bobath Concept Theory and Clinical Practice in Neurological Rehabilitation A John Wiley & Sons, Ltd., Publication This edition fi rst published 2009 by Blackwell Publishing Ltd
5. Patricia C. Montgomery, Barbara H. Connolly, Clinical Aplication for Motor Control 2003, by Slack Inc.
6. Janet M, Howle – Neuro-Developmental Treatment Approach – Theoretical Foundations and Principles of Clinical Practice, collaboraton with NDTA Theory Committee, 2002.
7. Campbell, Suzann. – Pediatric Neurologic Physical Therapy, New York, NY, Churchill Livingstone, 1991
8. Kandell, Eric R.; Schwartz, James H; Jessel, Thomas M. – Princípios da Neurociência. Manole, 2003.
9. Lente, Roberto. Cem bilhões de neurônios – Conceitos Fundamentais de Neurociência. Ateneu, 2002.
10. Girolami, G and Campbell,S.K. (1994) Efficacy of a Neuro-Developmental Treatment (NDT) program to improve motor control of pre term Infants. Pediatric Physical Therapy, 6, 175-184
11. Campbell, S.K. , Kolobe, T.H.A. ,Osten, E.T., Lenke, M. and Girolamo,G.L. (1995) Construct Validity of the Test of Infant Motor Performance – TIMP,Physical Therapy, 75, 585-586

O Tratamento Neuroevolutivo (NDT) e a Pesquisa Científica Contemporânea. Construindo a ponte.

Os três pilares da evidência científica segundo Sackett, 2000 são: O Paciente, a Experiência Clínica, A Pesquisa Científica.

É da integração desses tres pilares estruturantes que surge a reabilitação do paciente de uma forma eficiente. Observe, portanto, que o reconhecimento da evidencia científica é fundamental para o sucesso do tratamento. Assim, para o paciente com disfunções neurológicas, o valor dessa afirmativa é a garantia de que ele será realmente atendido em sua demanda relatada pelos pais e garantirá uma escuta por parte do terapeuta em relação à principal demanda.
O terapeuta com formação e atualização no Tratamento Neuroevolutivo – Conceito Bobath assegura uma excelente alternativa para o paciente com disfunção neuromotora. O paciente é avaliado de acordo com suas queixas principais e as hipóteses para o tratamento serão aventadas e implementadas. O sucesso do tratamento é fundamentalmente dependente da experiência clínica do terapeuta e de suas habilidades para avaliar e conduzir o tratamento segundo os modelos atuais da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) e da neurociência contemporânea.
As pesquisas científicas permitem incorporar continuamente novos conhecimentos e fazer avançar a eficácia do tratamento, pela introdução de novas práticas, simulações, mobiliários, roupas, medicamentos, bem como pela utilização de modelos de mensuração da melhora do paciente.
Assim, a informação advinda do paciente, a experiência clínica do terapeuta e a pesquisa são essenciais e indissociáveis para o sucesso da terapia.
Algumas dessas pesquisas foram realizadas por profissionais com experiência clínica e com formação na Abordagem Neuroevolutiva (NDT). Esses trabalhos permitiram a realização de testes com formatos de comprovada eficiência para medir a melhora. Por exemplo, o teste TIMP, realizado por terapeutas formados na abordagem, Girolami, G e cols, 2000, valida a eficácia do Tratamento Neuroevolutivo no acompanhamento de bebes pré-termos que adquiriram controle postural do tronco em idade adequada.
Atualmente, já existem instrutores do Conceito Bobath que atuaram em suas clínicas por mais de trinta anos e após esse longo período de experiência baseado na prática realizaram mestrados e doutorados em universidades dos Estados Unidos e Europa. Os afazeres da prática clínica não os estimularam a disseminarem suas experiências com trabalhos científicos na clássica forma de publicações, apenas com comprovações de melhora em vídeos e estudos de caso. Entretanto, muitos trabalhos inovadores, relevantes advieram como resultado de toda essa prática. Esse trabalho não foi perdido e alguns, ao adentrarem nas universidades como docentes, os resultados de seus estudos e pesquisas foi considerado de extrema consistência. Foram profissionais que conseguiram formular perguntas exatas para realizar pesquisas academicamente formais e comprovar sólidas evidencias científicas advindas de sua grande vivência clínica. Temos, na atualidade, diversos artigos e livros publicados que dão a fundamentação teórica para a prática clínica baseada no Tratamento Neuroevolutivo. Apesar disso, existem ainda críticas e preconceitos para com os terapeutas do Conceito Bobath. Isso decorre talvez do fato de não conseguirem ainda perceber que os terapeutas, instrutores desse Conceito, já realizam o tratamento tendo como base os modelos de teorias da neurociência atual, como a Teoria do Controle Motor ou da Aprendizagem Motora que embasam as suas estratégias de tratamento.
Devido à fabulosa experiência clínica, devido ao literal manuseio dos pacientes, os terapeutas do Conceito Bobath têm facilidade de criar práticas de atividades funcionais altamente eficazes, utilizando esses já consistentes modelos teóricos. Eles têm a habilidade de manejar e manusear o paciente com disfunções neurológicas para que ele realize tarefas com uma boa base de suporte, bom alinhamento biomecânico e boa estabilidade postural o que proporciona ganhos para que ele possa desempenhar eficientemente suas atividades funcionais, pois são esses os pré-requisitos para a realização de uma função no caso de um paciente que tem deficiência em suas estruturas corporais e em seus sistemas orgânicos.
Helenice Soares de Lacerda
Fisioterapeuta, Especialista e Instrutora do Curso Básico do Tratamento Neuroevolutivo.

Referencias Bibliográficas .
1. Shumway-Cook, A.: Woollacott, M. – Motor Control Theory and Practical Applications. Baltimore, Williams & Wilkins, 1995.
2. Sackett,DL, Strauss,S.E, Ricuardson, W.S, Rosemberg,W. and Haynes,RB. (2000) Evidence Based Medicine, How to practice and teach EBM, Second Edction, Edimburg, Churchill Livingstone.
3. Herbert, R ,Jamtvedt,G ,Mead,J , Hagen,K.B , (2005) Practical Evidence – Based Physiotherapy, Elsevier Ltd.
4. Sue Raine, Linzi Meadows, Mary Lynch-Ellerington – Bobath Concept Theory and Clinical Practice in Neurological Rehabilitation A John Wiley & Sons, Ltd., Publication This edition fi rst published 2009 by Blackwell Publishing Ltd
5. Patricia C. Montgomery, Barbara H. Connolly, Clinical Aplication for Motor Control 2003, by Slack Inc.
6. Janet M, Howle – Neuro-Developmental Treatment Approach – Theoretical Foundations and Principles of Clinical Practice, collaboraton with NDTA Theory Committee, 2002.
7. Campbell, Suzann. – Pediatric Neurologic Physical Therapy, New York, NY, Churchill Livingstone, 1991
8. Kandell, Eric R.; Schwartz, James H; Jessel, Thomas M. – Princípios da Neurociência. Manole, 2003.
9. Lente, Roberto. Cem bilhões de neurônios – Conceitos Fundamentais de Neurociência. Ateneu, 2002.
10. Girolami, G and Campbell,S.K. (1994) Efficacy of a Neuro-Developmental Treatment (NDT) program to improve motor control of pre term Infants. Pediatric Physical Therapy, 6, 175-184
11. Campbell, S.K. , Kolobe, T.H.A. ,Osten, E.T., Lenke, M. and Girolamo,G.L. (1995) Construct Validity of the Test of Infant Motor Performance – TIMP,Physical Therapy, 75, 585-586

Capítulo do Livro: Tratamento Neuroevolutivo – Conceito Bobath

O tratamento neuroevolutivo Bobath é uma abordagem de resolução de problemas para avaliação e tratamento das deficiências e limitações funcionais de indivíduos com disfunções neurológicas, primordialmente em  crianças com paralisia cerebral (PC) e adultos vítimas de acidente vascular encefálico (AVE) ou traumatismo cranioencefálico (TCE)1. Esses indivíduos apresentam disfunções da postura e do movimento que levam a  limitações em suas atividades funcionais. A abordagem Bobath focaliza a análise e o tratamento de deficiências sensoriomotoras e limitações funcionais, em que fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos podem atuar.

Caso Clínico

Apresento uma criança com 3 anos de idade, com diagnóstico de paralisia cerebral e síndrome de Down. Na consulta inicial a mãe solicitou que ele fosse capaz de ficar sentado sozinho no solo para brincar de bola com o seu irmão mais velho.

Então baseado no pedido da mãe é feita a primeira avaliação.
Descrevo para a mãe os pontos positivos da criança que estava sentada no seu colo. Por exemplo, que ele apresenta um bom sistema visual, pois explora com o olhar todo o ambiente terapêutico, também vocaliza e tenta apontar para o pianinho que esta na mesa. E logo que o aproximei para que ele tocasse tentou com a mão esquerda. Logo que ouviu o primeiro som do piano, sorriu com as mudanças das notas musicais, assim revela um bom sistema auditivo.

Percebo também que ele se mostra seguro emocionalmente e a mãe o estimula de forma bastante positiva. Saliento que ela o segura de forma boa no colo favorecendo o sentado com o quadril fletido, pelves neutra e o tronco retificado.

Tanto a mãe como a criança se sentem felizes, porque eu valorizo todas as competências do filho e da mãe.

Quando ele está mais a vontade comigo, solicito à mãe que o coloque sentado no solo com apoio das mãos dela e ofereço a bola para ele jogar.
Nessa postura avalio que falta a retificação do tronco e a flexão do quadril e ele tende a cair para trás, dessa forma ele não consegue jogar a bola.
Ensino a mãe a posicionar melhor o tronco, com pernas bem abertas dando melhor base de apoio para ele usar melhor as mãos.

Em seguida avalio também o sentado em banco (os pés ficam apoiados no solo) com mesa a frente para brincar (veja a foto). Nessa postura fica evidente a melhora da retificação e controle postural do tronco, ficando assim as mãos livres à frente para ele brincar com o piano na mesa.
Nesse momento já oriento a mãe a importância de ter em casa o mobiliário adequado para que ele brinque em diversas posturas com um bom alinhamento do corpo, incluindo também cadeira para o banho e para a alimentação.

Saliento também que na escola ele vai precisar de uma boa cadeira com o cinto de segurança e mesa adequada para ele realizar as atividades pedagógicas com ajuda. Nesses casos eu visito a escola para orientar o mobiliário e posturas adequadas para as diversas tarefas.

A tarefa é o elo entre o ambiente terapêutico e o paciente.
As aquisições de habilidades que ocorrem após uma lesão cerebral no paciente não são por acaso, este processo é influenciado pelo estímulo aferente que ocorre durante a utilização de estratégias de movimento repetidos no tratamento e por fatores internos e externos ambientais.

foto para o blog 2

foto para o blog 1

Helenice Soares de Lacerda